quinta-feira, março 13, 2008

Drama em imensos f(actos)

Dores de cabeça, pois, a insónia, os ladrões carinhosos, os cigarros mentolados noite fora. Almoço com pena de estar sem fome para as sardinhas fritas da afurada. Alto, vem aí gritaria, a Júlia foi à rua comprar a revista “Caras” e regressa sobressaltada: “O dono da padaria de Gondarém, o médico, matou os irmãos todos e depois matou-se a ele. Corre perigos de vida.” Pelos vistos depois de morrermos, ainda temos que nos sujeitar aos mesmos riscos de quem está vivo. Ele há coisas. Era médico, mas matou os irmãos todos por dinheiro, Santo Deus, onde já se viu. Já toda a gente sabe. Aparece a Lé na sala, larga o pedal da velha Singer e junta-se à tertúlia. “ Ah, se calhar esse médico era aquele homem que eu vi a morrer no Santo António.”
O telemóvel da Júlia toca ininterruptamente, a Liliana quer saber se aconteceu alguma coisa ao Zé, ainda parente de seu marido e que trabalha na dita padaria, não vá ele ter sido atingido com uma bala perdida ou com uma baguete ressequida. Ainda conseguem ser bem duras. A Lé abre bem a boca mostrando orgulhosamente os dois dentes da frente que lhe sobram e reclama a veracidade dos factos, vai mas é perguntar tudo à Zeza que ela é que sabe. A minha avó abre a “Caras”, pergunta se a menina do balcão também morreu e relembra as bolas de berlim que "eram tão boas".

1 comentário:

António A. Antunes disse...

ó sóna piedade aquilo foi tudo por causa dos dinheiros.