domingo, maio 31, 2009

segunda-feira, maio 18, 2009

da rua e dos pés

Alice sentiu frio nos pés. Não se devem usar sandálias com este tempo, mas era tão de manhã. Foi então que viu duas pombas.
Alice costuma sair tarde de casa. Não, costuma sair mais tarde do que devia. No fundo, e de forma mais que patética, desafia o tempo. Como se aqueles 5 minutos que lhe restam para fazer a marginal toda, pudessem inchar como os seus pés num dia de verão e as sandálias muito apertadas.
Depois do episódio da ovelha suicida e do cavalo abandonado, foi a vez das pombas.
Alice entra em casa. Naquele dia, antes do outro em que tinha saído com frio nos pés. À porta do prédio uma pomba estranha. Está encostada, aninhada, naquele canto onde vai aquele homem parar às vezes para dormir um bocado e acabar o vinho de pacote.
Não fez nada, nada havia a fazer, ou talvez alguma coisa, sei lá. Pensou que não iria lutar contra o destino da pomba e que pensos adesivos em patas de pombas vadias era coisa de filme chato. Alice, que gosta de desafiar o tempo nos dias em que trabalha e quando apanha aviões, não é capaz de desafiar o fado da pomba moribunda. Nunca ninguém lhe tinha chamado hipócrita.
Sentiu frio nos pés. Quando fazia marcha atrás, olha (não sabe porquê) por baixo da carrinha branca que está estacionada mesmo em frente ao prédio.
Alice vê a pomba, morta.
(não interessa se era a sua ou não)
Vê duas pombas mortas.
Alice é novamente patética e pensa que a segunda pomba morta tinha vindo para ajudar a primeira, e não tendo conseguido completar a sua missão, morreu de tristeza.

sexta-feira, maio 08, 2009

manguemo-nos enquanto levantas os olhos

Apareceu uma nova versão do Roberto de limão. Desta vez não bebe latas de ice-tea assim seguidinhas. É mais inteligente: comprou um pacote daqueles grandes do mini-preço. De manga. Já foi ao supermercado 3 vezes. Abro-lhe a porta com um sorriso digno de quem não se importava (ainda que me importe) de partilhar o pacote ao fim da tarde no jardim. Ele baixa a cabeça, eu baixo com ele de forma a vermos os dois a mesma coisa. Não lhe sei o nome, devia saber. Não lhe posso tratar pelo nome, devia tratar. Mas, digamos que, para este nível precário de conhecimento, saber o nome de alguém é retirar-lhe todas as características que se estão a formar. Não me posso dar ao luxo de aceitar tareias violentas naquilo que ainda me resta de imaginação. De tanto a salgar, acabou por ficar seca - a pobre.

Il n'y a pas de problème parce qu'il n'y a pas de solution