sexta-feira, janeiro 27, 2006

curto conhecimento desta curta historia deste longo pais

Sidney e' uma cidade onde e' dificil estar mal por tudo ser tao facil. Mas a verdade e' que estar mal e' diferente de estar bem, e estar bem e' muito diferente de ser feliz. O verdadeiro choque cultural. A magia da India era tao intensa, que no primeiro dia a percorrer a cidade tive a sensacao de caminhar no vazio, reparando nos buracos ou falhas que uma civilizacao ocidentalizada e com muito dinheiro nao pode deixar de ter. A evolucao traz tantas vantagens como desvantagens, mas isso e' como quase em tudo na vida. O pais e' extremamente novo e comecou ha pouco mais de 200 anos com os ingleses a mandarem os seus prisioneiros para a tal ilha imensa e deserta. Entre fugidos a lei, aborigenes (que ja estavam ca ha milhares de anos, mas que muitos deles morreram com doencas vinda da europa entre outras atrocidades) e milhares de chineses que mais tarde vieram para aqui fazer negocio, o povo australiano caracteriza-se pela sua extrema simpatia e relaxe. Sao cool, no verdadeiro sentido do termo. E' facil obter um sorriso ou uma conversa circunstancial com qualquer pessoa, ainda que superficial obviamente. Os dias em Sindey definiram-se pela procura da habituacao a esta nova cultura e por algumas caminhadas nas ruas e jardins limpos da cidade. A opera e' bonita mas precisa de obras. Os predios sao muitos, altos e tambem eles limpos. Tudo parece que foi construido ontem e ha um mundo exagerado de regras que ainda nao consigo respeitar. Em cada esquina ha um sinal a avisar que a rua esta a ser controlada por um sistema de video, mas nao me consigo sentir mais segura por saber tal coisa. No primeiro dia, fui logo expulsa de um bar por estar a fumar num sitio onde era proibido e de que ja tinha sido avisada. Vendem cerveja, passam musica e poem mesas de bilhar, mas nao deixam as pessoas fumar. Infelizmente tenho que compreender esta nova regulamentacao que, sem duvida, tem as suas causas e consequencias mais que positivas. Tudo e' carissimo e passo o dia a comer pao de forma que me deixa com gazes. Claro que compro daqueles castanhos com sementes para ver se disfarca, mas cheira-me que aquilo faz tao mal quanto os outros brancos. Os supermercardos insistem em criar uma especie de clima parecido ao da antarctida com o ar condicionado no maximo. Ja pensei em usar cachecol sempre que vou la buscar o tal pao castanho, mas depois penso que a t-shirt tipica decotada da mary e' suficiente. As vezes, ha tambem um pequeno computador onde confortavelmente o comprador preguicoso pode ver onde se situam os produtos que quer adquirir, poupando assim as suas delicadas pernas.
Mas o balanco e', sem duvida, positivo.
Estou outra vez acompanhada do Antonio, que me ocupa a cabeca com as conversas infindaveis que temos sobre os mais variados temas. E depois ha a natureza. Uma Natureza unica e brutal que me deixa com a boca aberta a cada 5 minutos. Rochas, arvores, cascatas, mar, rios e ceus de cores que ainda nao sei descrever por palavras ou adjectivos. Quilometros e quilometros de animais e vegetacao que nos fazem sentir impotentes e muito pequeninos...A mim vem muitas vezes a pergunta a cabeca: " Caramba, mas quem e' que pode criar isto?" - como sempre nao obtenho resposta. Depois tenho vontade de agradecer pelo privilegio de poder estar num sitio assim, mas tambem nao sei a quem.
Alugamos um carro o que nos da a oportunidade de ir para quase todos os sitios onde nos apetece. E como nao sei guiar e sinto-me um bocado mal por isso, fiz questao de ser um verdadeiro co-piloto. Vou vendo o mapa e dando orientacoes, umas mais acertadas que outras. Apercebi-me que gosto de analisar os mapas e acho que tenho alguma facilidade em faze-lo, como tambem deve ter qualquer amiga das belas (Ernesto, de ti ja nem falo). O carro e' o amigo e o abrigo, o verdadeiro suporte para a vida cigana que estamos a levar. Quando queremos descansar paramos naqueles sitios feiosos com casas de banho pre-fabricadas e mesas tipicas pro pic-nic. Dai toca a tirar a sandocha de pao de forma e o tintol (compramos 2 garrafoes de 5 litros para passar o tempo a noite com algum prazer acrescentado. Tia Miucha, nao se preocupe que depois o Antonio nao guia que eu nao deixo). Quando ja estamos cansados de apanhar vento na cara e de vinho foleiro vamos ressonar para dentro do veiculo. De 3 em 3 km ha este tipo de sitios cheios de facilidades, e as estradas sao infinitamente grandes e quase sempre muito seguras. Outra coisa nacional sao os barbecues, os australianos dao-lhe nas salsichas e na carne e ha grelhas publicas em qualquer parque que se preze. As praias estao repletas de familias com pranchas de bodyboard a tentarem apanhar ondas. Os verdadeiros surfers vao as 6 da manha para fugir a multidao e comecar bem o dia. Maior parte deles sao homens e dos 10 aos 100.
Ontem tivemos a falar com uma senhora de 50 anos (tipica bifa, gordinha, de bone na cabeca e sapatilhas muito brancas) que apareceu ao fim da tarde na praia com um detector de metais. Andava a procura de ouro ou de outras coisas valiosas que os outros pudessem perder ali. Entre aproveitar-se da desgraca alheia ou puro lazer de ouvir uma maquineta a fazer pi pi de vez em quando, nao sabia o que pensar da senhora. "It's my hobbie" - disse ela. E eu continuo assim, entregue a esta viagem e 'a oportunidade, quase sempre unica, de observar estes pequenos momentos da vida de outras pessoas e de outras partes do mundo.

sábado, janeiro 21, 2006

Evolução? Desculpa?

a evolução está em portugal!!!


evolucao?

as montanhas transformaram-se em predios e as mulheres de sari em prostitutas.

onde estou?

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Recebi a foto…

cada vez mais, ao saber de ti, vejo-me necessitada e ligada a ícones incontornáveis…

tio lino

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Um pedido...


(Sentada no Chapitô, making connections!)
K viagem maravilhosa essa tua... Não te esqueças de continuar a levar-me contigo!
Boa viagem para a Austrália, tenho a certeza de que vai continuar a ser fantástico.
Beijos deste lado do mundo, cheios de saudadades
Mi
(espero k tenhas recebido o meu e-mail...obrigada princesa Mary!)

sábado, janeiro 14, 2006

gokarna e quarto no acampamento cigano

Bem, ha duas maneiras de se viver Gokarna: ou se fica numa casita qualquer na vila de peregrinos, ou se vai viver para uma cabanita de bambu numa das praias paradisiacas das redondezas. Basicamente, as praias sao so para brancos, e os unicos indianos que se vem la sao os que trabalham para nos ou os que tentam fazer algum dinheiro connosco. Nao se pode dizer que a praia e' uma ma' opcao porque o ambiente parece ser porreiro e ali nao ha oportunidade para resort de luxo. Fogueirinha a noite, pessoal a tocar musica, e coisa e tal. Mas confesso que estou a viver um momento um pouco anti-social, e como estes sao os meus ultimos dias na India, resolvi ficar perto da comunidade local e peregrina, entregando-me mais uma vez a contemplacao desta cultura complexa e paradoxal. Quem ja esteve neste pais, entendera o que quero dizer com paradoxal: tudo o que se disser sobre a India, o contrario tambem esta' certo. Por isso, acreditem 50 por cento no que eu vou dizendo no blog. Acho que acaba por ser assim com qualquer generalizacao que tentemos fazer de qualquer povo, mas aqui de uma forma especial.
A vila esta repleta de indianos devotissimos que passam o dia a rezar e a queimar incenso com pinta na testa e com os mais diversos trajes. E' um regalo para os olhos. Depois ha a parte europeia: old old travellers com longos cabelos conzentos e barbas compridas da mesma cor. Acho que a media deve andar por volta dos 50/60 anos, e ainda nao percebi se eles estao aqui de passagem ou se resolveram estabelecer vida aqui. Mais uma vez vim parar 'a mais barata guest house de sempre (algo parecido com um acampamento cigano), e a minha vizinhanca e' um casal de 40 e muitos, que passam a vida a tocar flauta e guitarra indianas e a cozinhar a porta do quarto. Tem um filho loirinho que deve rondar os2 anos e que anda sempre nu. Este tipo de familia aqui e' um classico: pai barbudo, mae um pouco mais nova, filho nu loirinho. Ja vi uns tantos.
O meu quarto tem um colchao no chao e uma janela que da para a cozinha, mas que por misterio nao passa cheiro nenhum. As paredes nao sao pintadas - com tijolo e cimento a mostra - e o chao ainda nao percebi de que material e' feito. Para dizer a verdade, e' algo parecido a um pequeno estabulo, mas sem qualquer conotacao negativa, porque para alem de ser fresco, tem certos ares de aldeia portuguesa que me agradam. Tornei-o confortavel a minha maneira, o que se torna facil por ser pequeno. Ontem o puto nu entrou no meu quarto para brincar comigo e tentar ensinar-lhe a pintar com aguarelas. Parece-me que o pequeno ser estava a sentir falta de alguma actividade infantil, pois quando me quis ir embora la veio ele atras de mim a pedir mais e mais. Na verdae, foi um bocado dificil ensinar-lhe a pegar no pincel porque ele insistia que era maestro de musica, e entao punha o dedo tao na ponta (oposta ao pelo, obviamente) que se tornava impossivel fazer qualquer coisa. No fim, o resultado foi um monte de agua despejada para o papel de uma forma tao aleatoria que acabou por ter a sua graca.
De manha e 'a noite estou na vila, e 'a tarde vou dar um mergulho na praia. Os meus novos amigos sao os caes vadios e doentes, que nao sei porque razao, vem sempre ter comigo. Primeiro sentam-se de ladeiro com todo o respeito, depois com olhos de compaixao pedem por amor ou comida, e finalmente depois de me terem conquistado, querem sentar-se na minha toalha. Ontem andei a lutar com um, o caozinho nao largava a minha toalha, tive que me levantar e tudo. Era eu de pe a agarrar numa ponta e ele a trincar da outra. Tenho a impressao que toda a gente na praia se estava a rir de mim. Meia hora antes, tinha sido a vez de uma cadela manca cheia de cicatrizes a vir ter comigo. A relacao de amizade tornou-se tao intensa com a pobre cadela, que passado um bocado um gajo veio ter comigo, muito assutado, a dizer para eu nao a tocar porque ela devia ter raiva. Por acaso ainda nao lhe tinha tocado, o affair foi todo processado atraves de olhares que nao contagiam doencas.
Bem, amanha vou para Goa buscar o meu novo bilhete para a Australia e dia 18 sigo para Sidney. Uma coisa e' quase certa: aqui quero voltar, e nao vou cair outra vez na ambicao de comprar bilhetes de volt ao mundo se gosto de um pais e me apetece ficar nele.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Oferece-se amor autêntico...


Foi um sucesso, os cerveirençes (sem cedilha)sentiram o amor autêntico da Mary.
No dia seguinte o povo tava todo com o nariz vermelho e preto.

a importÂncia...

quarta-feira, janeiro 11, 2006

transformem quartos apertados nos melhores lugares do mundo!


as pessoas inteligentes têm espaço em qualquer lugar do mundo...
porque todos gostam de pessoas assim!

domingo, janeiro 08, 2006

E daqui nao consigo sair

Cheguei a Hampi no dia 28, acho. Nunca tenho a certeza do dia do mes ou da semana em que me encontro, e' um bom sinal, sem duvida. Depois de uns dias de praia, gente e festa em Goa, a minha cabeca ja estava a parar de uma certa maneira que nao me agrada. Nao tinha nada em que pensar porque tudo estava ali tao facil de adquirir..Cabanna em cima da pria, restaurante em cima da pria, amigos em cima da praia..."ai ai ai Maria, tens que sair daqui, para isso podes ir acampar para o Alentejo." Mas nao sabia muito bem para onde ir. A espanhola foi embora e eu estava sozinha sem guia a tentar decidir onde queria ir. E porque as palavras tem som e vida, olhei para um cartaz publicitario na rua com variados destinos e a palavra Hampi saltou de entre todas as outras e ficou na minha cabeca. Apanhei um sleeper bus para encontrar o sitio ou apenas a palavra, e quando acordei vi plantacoes de bananas com ruinas mituradas. Rochas e mais rochas com formas nunca monotonas a criarem pequenas colinas. E depois 'agua. Um rio, um lago, umas waterfalls. E pronto, rendi-me ao espaco e 'a historia desta vilazita. Depois de tantas cidades, ja era altura de um pouco de natureza. Tenho andado de biciclete, nadado, andado e ate subido montanhas para ver os fantasticos sunsets. Estou surpreendida como o sol nao se esquece de se por nem de se levantar um dia que seja. A melhor parte e' depois de o sol se por quando maior parte das pessoas vao embora satisfeitas com as suas maquinas...e a partir dai' esperar ate que seja noite. joana, todos os tipo de azul possiveis..
As ruinas estao espalhadas por 20 km around e (so) tem 500 anos. Pelos vistos, um grande imperio que foi destruido pelos muculmanos. Mas o sentido de tempo e' intenso, tempo que passou, tempo, tempo nas duras pedras das ruinas e tempo nas folhas novas dos bananeiros. Tempo nas pequenas aldeias que se vao encontrando com camas e redes ca fora, onde alguns homens descansam. Tempo no rio que nao para e onde esqueleticas mulheres passam o dia a lavar roupa. Isto nao e' uma declaracao feminista, mas e' mesmo assim. Tempo na agua quente que nao existe, tempo na merda de vaca que que usam para limpar as ruas, tempo nas maquinas de costura que estao fora das lojas para que os turistas possam ver como o alfaiate. Mas claro, a pequena vila vive do turismo e os precos nao sao tao baixos como em outros sitios onde ja estive. Mesmo assim, arranjei o quarto mais barato possivel. Um corredor com alguns quartos onde ha espaco para uma cama. Nao preciso de mais. De manha sento-me no corredor a beber cha com o meu vizinho que faz-me o pequeno almoco todos os dias a mesma hora...e a noite converso ou vejo um filme com o dono da guest house, na pequena loja de bicicletes que tambem pertence a mesma familia. A enorme familia vive tambem neste corredor em diferentes quartos para cada um dos irmaos e sua respectiva familia, o que me da' a oportunidade de observar o daylife indiano de uma forma mais real e directa. Cada vez que regresso ao meu quarto sinto que estou a voltar a casa. (Leni e Mae nao se assutem que nao prefiro esta do que a nossa da cantareira)
Estar sozinha e' gratificante, produtivo e maravilhoso.
Mas connections nunca deixo de fazer, obviamente...