domingo, fevereiro 19, 2006

Mary a redimir-se

Eu sei que nem sempre ponho as virgulas qd tem que ser e ha sempre alguns erros nos textos...mas nao tenho tempo nem dinheiro para poder corrigi-los...peco desculpa ao Pessoa, ao Camoes e ao resto das pessoas que gostam de portugues e lem o blog ;)

A Heidi e o Marco

Feliz nas montanhas e sempre com o amguinho atras, este tem sido os meus dias.

A ilha do sul da Nova Zelandia e' dificil de descrever porque aqui tudo e' bonito com excepcao das cidades. Estas invadem os campos, o mar ou as montanhas como pedacos de lixo caidos do nada de uma forma organizada. A arquitectura e' quase inexistente: as casas consistem em 2 ou 3 modelos pre-fabricados que a aki de ca tem para oferecer, e as cidadezecas sao tao pequenas que nao e' necessario uma organizacao urbanistica por ai alem. Basicamente, uma rua comprida com um supermercado, correios, restaurante de fast-food e casas de banho publicas onde podemos ter quase todo o tipo de regalias e limpezas de graca. So lhes falta chuveiro, e assim tomar banho torna-se num acto pouco frequente.

O pais tem 4 milhoes de pessoas e 70 milhoes de ovelhas que o ser humano anda a tentar reduzir para metade. Na ilha do sul apenas 800 mil pessoas, que se espalham entre cidades mais ou menos desenvolvidas e quintas no meio do nada. As poucas pessoas que vamos conhecendo sao aquelas a quem damos boleia. Outro dia foi a vez de um homem na casa dos 40, bone, bom porte mas ligeiramente encurvado. Nao tirou os oculos de sol durante toda a viagem e veio calado quase todo o tempo. De vez em quando, faziamos-lhe perguntas sobre a regiao para melhor podermos planear a viagem e ele respondia rapida e eficazmente. Nao eram raras as vezes que nao percebia o nosso acento latino. Tinha uma profissao deveras curiosa: todos os dias fazia pessoas voarem. Trabalha para uma companhia de skydiving e e' ele que se tem que atirar com os aventureiros clientes (e ricos), e depois sacar do paraquedas quando for a altura certa. Os primeiros 50 segundos sao em queda livre, um dia tenho que experimentar. Faz isto ha alguns anos e ja deve terouvido todo o tipo de gritos que o ser humano pode expulsar. No final, convidou-nos para aparecer em casa dele junto ao rio no dia seguinte, para tomarmos um banho e dormirmos numa cama. O Antonio disse-lhe que gostava de pescar e ele tambem sugeriu a tal caca aos peixinhos como programa da matine.
Quando chegamos cheirava a carne. Havia um fogao de sala e um fogao de cozinha que funcionava tambem ele a lenha. A casa tinha sido comprada por 6 amigos e tudo estava a ser lentamente arranjado: hoje e' a vez das cortinas, amanha a do chuveiro. E assim passamos horas e horas na sala com o calor da lenha que fomos buscar a praia: eu sentada num sofa largo so para mim, o antonio noutro igual, e ele numa especie de poltrona mais afastado do fogo e de nos. Ele a beber cerveja de 700 ml da marca que mais gostava, e nos a bebermos umas mais pequenas que supostamente tinhamos trazido para lhe oferecer. Tinha duas filhas, uma de 13 e outrada minha idade. Nao era um homem interessante, nem tao pouco tinha conversa. Nao precisava de falar e o silencio assim nao se tornara incomodo. Respondia sempre as perguntas tal como antes o tinha feito no carro. Nao parecia feliz nem infeliz. Nao se ria nem se queixava. Estava ai sentado, a ouvir-nos falar e a deixar que as horas passassem ao ritmo viciante do fogo e do cheiro do carne que tinha estado a elaborar para nos com carinho, ou simplesmente com naturalidade. Era uma carne tenrinha das vacas do pasto ao lado, com ervilhas e batatas - verdadeiramente campones. Na manha seguinte tomou uma chavena de cha e nos comemos a tipica sandocha.

Agradecemos e fomos embora.

A vida continuou tal como era dantes. E os saltos tambem.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

NOVA (Ze)LAND(ia)

Isto aqui e' bonito e pronto. Nao consigo descrever as cores do ceu, nem dos mares, nem das arvores. E' imenso e brutal. A capital, Wellingnton, e' como todas as cidades europeias. Os gajos comem muita fast food e cozinha chinesa. Ha chinos em todo o lado, cada vez admiro aquele povo. Sabem como se fazer a vida.
Continuam a aparecer pessoas vindas do ceu na minha viagem:
Estava eu a procura de hostel ha mais de uma hora porque tudo estava cheio, e quando viro as costas desapontada a mais um recepcionista, ouco uma voz a dizer - "hey, i can see you didn't get room...we have two rooms, we can give you one..." Pois e', o casal resolveu dormir apertado para dar tecto a uma tuga morena e desesperada que andava pra'li cheia de mochilas e tachos. Nao tive que pagar um centimo, nem a eles nem ao hostel. Foi um bocado chato sentir-me ilegal, mas bem melhor do que pagar aqueles donos ricos. Duas noites a pala deles, e depois ainda fizeram questao de me oferecer um kebab e uma cerveja. Fantastico.
E por falar em ilegalidades, tive uma situacao deveras caricata no aeroporto na Nova Zelandia. Depois de pegar na minha mochila e pronta para sair do aeroporto, tive que passar por aqueles raios x e por aquela cambada de poilicias que nos apalpam e olham para nos como se fossemos possiveis terroristas. Pois bem, eu fui uma das seleccionadas a quem eles tinham que checkar toda a bagagem e tudo mais que eu trouxesse comigo. Olharam para mim, perguntaram se estava a viajar sozinha e puseram-me logo para o lado. O policia era um idiota, daqueles simpaticos por cinismo. Perguntou-me milhares de coisas relacionadas com a minha vida, onde ia, como ia, donde vinha, o que pintava etc. Depois passou um papel redondo na minha carteira para ver se encontrava residuos de droga e va-se la saber como, aquela maquineta apitou positivo. O palerma dizia que era cocaina que para ali andava ou ja tinha andado na pobre carteira (uma pura e inocente carteira castanha que eu tenho com um elefante...quem se lembrar dela ganha um premio!). Eu fiquei a olhar para ele com uma cara ainda mais idiota que a dele...disse: "what? it's impossible." Mas depois pensei que era melhor ficar calada, porque eles ja devem ter ouvido essa mesma frase de muitos culpados...Sentei-me por uma hora e tive que assistir dramaticamente ao espectaculo do policia cuscuvilhar toda a minha mochila enquanto me ria com a forma como pegava na roupa interior suja e nos pensos diarios. Acho que a certa altura ele pos mesmo em consideracao se eu era dealer ou nao. Depois de passar o tal papelinho magico em todo o sitios possiveis e dar negativo em todos eles, o gajo la se convenceu. Eu disse que ele tinha que passar outra vez na tal carteira porque eu queria ver o resultado outra vez. O homem passou a volta do couro sem tocar nos cartoes e deu negativo. Disse-me para ter cuidado com os cartoes de credito que toda a gente mexe neles e que muitos deles vem com cocaina. Mesmo assim, antes de me deixar ir embora teve que ir falar com o boss para os dois pensarem profundamente se eu podia ir em paz ou nao. No fim disse : "Ok Maria, you can go, we are happy with you". Apetecia-me bater-lhe, mas apenas lhe disse muito educadamente que nao gostei da forma como ele, quando se dirigia a mim, ja me estava a acusar indirectamente. Virei as costas e fui procurar um autocarro barato ate ao centro.
Nao sabia para onde estava a ir, e a certa altura resolvi perguntar a motorista onde ficava uma rua que eu tinha anotado para procurar hostel. Ficou toda a chateda e perguntou-me se eu achava que devia interrompe-la enquanto estava a guiar. A mulher nao deve ter percebido que estava parada no sinal vermelho e exactamente por isso e' que lhe perguntei naquela altura. Lembrei-me logo dos fantasticos autocarros portugueses onde de la de tras se pode gritar e ofender quem quer que seja : "Oh senhor motorista, olhe a porta de tras...boce e' besgo ou mouco?..."

Pelos vistos estou entregue a um dos paises que muita gente considera ser o mais bonito do mundo...A ver vamos.. o carro ja esta alugado e comprei um fogaozinho minusculo para me consolar com comida enlatada.
Qualquer dia nao sei onde vai caber tanto sentimento.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

...



"Lembro-me dele (eu não tenho o direito de pronunciar este verbo sagrado, só um homem na terra teve direito a ele e esse homem já morreu) com uma obscura flor de maracujá na mão, vendo-a como ninguém a viu, embora a fitasse desde o crepúsculo do dia até ao da noite, toda uma vida inteira. Lembro-me dele, de cara taciturna de feições índias, e singularmente distante por trás do cigarro. Lembro-me (creio eu) das suas mãos afiladas de entrançador."...

(in Funes ou a memória, jorge Luis Borges)

(sei q para ti não necessitava referir a fonte..mas achei melhor. Ando a ler, e lembro-me tanto de ti...um abraço da mais pequena)