quinta-feira, janeiro 29, 2009

Rilke

Tudo quanto é velocidade não será mais do que passado, porque só aquilo que demora nos inicia.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

terça-feira, janeiro 13, 2009

leitão com asti gancia

A Maria Leitão aparece na cozinha enquanto desfio bacalhau. Não exige que lhe olhe nos olhos para dizer que está feliz porque o pai morreu.
- Não sei onde. Lá para o Brasil. Só soube uns tempos depois.
- Feliz, Maria? Coitado do seu pai.
A Maria voltou a abrir a boca para lançar um sorriso quase bárbaro. O pai fez-lhe muito mal. Senti-me estranhamente bem por ter encontrado uma espinha.
A Maria comemorou o acontecimento com champanhe. Disse:
- Menina, tinha há anos uma garrafa de champanhe guardada para quando morresse a minha sogra, mas tive de a abrir. Agora só tenho que comprar outra e esperar pela morte da minha sogra. A minha sogra é muito má. É mesmo muito má.
Nunca me tinha passado tal coisa pela cabeça. Já há muitos anos que deixei de entender a bondade ou a maldade. Enquanto arrancava a última pele cinzenta da posta, comecei a sentir as bolhinhas do champanhe na barriga.
Pensei em desenhos animados.
Os maus, os bons, os maus que morrem vencidos pelos bons.
Mas a Maria não faz parte deste trama. É pura espectadora, calculista e previdente, não vá a sogra morrer ao domingo e o supermercado estar fechado.

quinta-feira, janeiro 08, 2009

terça-feira, janeiro 06, 2009

novo (2) - bruxismo

O dentista já me tinha dito que eu era bruxómona. Não sei como é que se escreve, procurei no google e só encontrei sites brasileiros. Se bem que vai ser tudo igual daqui em diante. Sim, sofro de bruxismo. Não é porcalhice.
O bruxismo consiste em passar a noite a raspar com os dentes uns nos outros, como se estivéssemos muito zangados. Do género cão antes de morder. RRRRRRRRRR. Ranger.
Quando ele me disse que sofria de bruxismo eu não liguei, mas ultimamente acordo exausta da boca. De daqui em diante, se alguém me disser que ando com má cara eu vou confessar: "ó pá, é porque ando cansada da boca". Imaginem-se a mastigar aqueles restinhos de nozes e pinhões a noite toda. A tarefa nunca está completa - mal acabam de aniquilar aquele resto de amêndoa dos formigos do Albano, aparece a avelã do chocolate Nestlé da Tia Cláudia.
Pensei que talvez os sonhos e o meu estado psíquico pudessem influenciar na intensidade do bruxismo. Mas não me parece. Sonhei a noite toda com uma comunidade de gatos. Acabou com a gata mais bonita a ter filhos. Isto é de uma simplicidade quase absurda. Se ao menos sonhasse com cavalos brancos, portas e precípios. Não, sonho com gatas parideiras e com meia dúzia de pessoas que amo e me fazem feliz.

novo (1) - pick up

O ano começou mal. Desde dia 1, já comi com duas multas no carro e um pequeno acidente. Não foi acidente. Foi estupidez minha. Também não foi com o meu carro, foi com o carro de outra pessoa. Se fosse com o meu já não valia a pena contar.
Descobri que o vizinho que eu acreditava andar-se a fazer a mim é gay.
A Gabriela veio pedir um escadote porque tinha a casa dela inundada e nunca mais o devolveu. Para além de livros e cd´s, nunca se deve emprestar escadotes.
No dia 2 pus-me a pensar se não deveria fazer daquelas listinhas inúteis com aquilo que quero mudar neste ano, deixar de fumar, fazer dieta, não dizer mal das pessoas no blog. A treta do costume. Detesto listas, promessas, juras. Juro-te que. Juro-te pela minha vida. A única vez que tive que jurar tive que mentir, naquela espelunca de tribunal. Mentir em sítios feios torna a mentira demasiado verdadeira.
Não quero ouvir ninguém a prometer nada, basta que falem, a promessa é por natureza uma redundância. Ou deveria ser.