quarta-feira, abril 16, 2008

hostel em volume

A australiana estava mortinha por falar com alguém. Viaja sozinha há meses. Fala alto, peço-lhe para falar mais baixo, ela fala mais baixo e desculpa-se dizendo que é australiana. Fala com dois mexicanos daqueles que olham para as mulheres assim muito de força e parece-me que Rachel gosta disso. Rachel tem um piercing nos lábios que não lhe permite fechar completamente a boca. Um dos mexicanos usa carapuço dentro de casa, o outro não tira o lenço do pescoço. Não parecem deslumbrados com nada. Rachel quer comprar vinho e eu tento vender-lhe porta da ravessa que é o único que ali tenho. Diz que quer mais barato e volta com um regional das terras do sado produto mini preço. One euro and forty five, ooohh that´s amazing, it´s so cheap Maria. Bebem a garrafa até ao fim, sem opinião. Rachel tem agora, à volta do piercing, os lábios quase castanhos, tingidos pelo sado.


Aparece uma americana a pedir uma pizza. São onze da noite. Fica deslumbrada com o facto de no Porto também haver home delivery. Essa não fala tão alto como Rachel, mas tem uma voz muito pior porque mais esganiçada. Tipo cadela que queria crescer e não conseguiu. Fala fala fala. Não sei para quem fala. Não me parece que queira ser ouvida sequer. Apenas ladrar.


As cinco italianas são tão mulheres e tão latinas que me chegam a incomodar. É a segunda vez que me vem pedir um secador de cabelo, não percebem como é que o hostel não providencia um secador de cabelo. Sentam-se nos puffs, sacam das suas mantas e escolhem um filme daqueles em que há um mau que ataca toda a gente. Bebem água e coca colas que não pagam na hora, é a filosofia do deixa ficar na conta. Tipo mercearia. Monopolizam a sala. O som está tão alto, ouço sirenes na recepção. Não lhes interessa falar com mais ninguém, têm-se umas às outras.

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