terça-feira, abril 08, 2008

corações, de alain resnais

A Alberta é triste, loira, olhos longes e azuis. É alta, quase gorda. Mãos bonitas. Já foi hospedeira de bordo e nessa altura roubava talheres e toalhas dos hotéis. Diz que que era muito bem disposta, cheia de namorados. Está desempregada. Vivia com uma cadela chamada "Ararat" que morreu há umas semanas. Desde então, a Alberta não consegue entrar em casa. Pediu a amigas e paróquias que a albergassem durante o luto. Ontem fui com ela e com a minha mãe ao cinema ver "Coeurs". À saída disse que o filme lhe veio mostrar que afinal não está sozinha no mundo. Fomos a uma pizzaria e ela quis saber se a sopa era caseirinha. Perguntou à minha mãe (comigo à frente) se eu era uma pessoa que olhava para dentro. Antes que a minha mãe respondesse, perguntei-lhe o que era olhar para dentro e ela continuou mais ou menos a ignorar-me.
Deixamo-la em casa, a primeira noite sem Ararat. Agradeceu o serão, pediu que rezássemos por ela. Dei-lhe um beijo e disse "beijos alberta" enquanto a beijava. Sei que não sei rezar. Fiz o caminho todo de regresso até casa com medo da solidão.

1 comentário:

Ana Oliveira disse...

Já abri a janela,já voltei a fechar, já fui pesquisar sites de noivas malucas e consultei o meu mail novamente, a ver se tinha recebido uma mensagem entretanto, à 1.42, só para ver...Entretanto, vou fazer a verificação das palavras e publicar este meu comentário profundo a um texto maravilhoso. Gostei tanto que não consigo deixar de comentar, mesmo sem dizer nada :)
Às vezes gostava de saber se te vem mais de dentro ou mais de fora. De onde é que te vem, se te acontece ou fazes acontecer, se vives ou sonhas.