quarta-feira, março 18, 2009

gente com o vente

O homem da garagem não tinha qualquer sotaque. Sozinho na garagem grande, vestia uma camisa branca e mancava. Mancava sem se atrapalhar, não queria andar mais rápido do que podia. Tinha uma cara feita em gesso de onde não se desvendava facilmente a idade. As mãos eras grandes, como se dentro delas e dos ossos que nelas estão dentro, pudesse carregar mais segredos que nós.
- Um homem de camisa branca numa garagem - pensei.
Não foi preciso tirar bilhete nem registo.
- Menina, vá-se embora e não se preocupe.
Todos estes bilhetes que somos obrigados a tirar nos parques são demasiados pesados por representarem uma equação mal resolvida para quem gosta de viver: tempo = dinheiro.
O homem da garagem não tinha trocos. Vestia uma camisa branca e tinha o cantinho dele montado, na imensidão do espaço absurdo que é uma garagem.
Uma mesa vazia. Encostados à parede, uma lancheira quase fechada e um microondas com a hora errada.

1 comentário:

Anónimo disse...

Outro tiro no porta-aviões! Se continuas, deito o meu teclado fora. Tenho raiva de quem escreve como tu, nem digo inveja. Ai o camandro!