quarta-feira, setembro 03, 2008

romance suspenso

Passamos a vida à procura de coisas.
Não é uma grande conclusão, esta. Mas julgo ser verdade. A verdade nunca pode ser repetitiva porque é verdade e repete-se sempre de maneiras diferentes. A mentira é como os prédios, crescem onde quisermos, da forma que mais convenha ao senhorio e aos condóminos. E por ser de natureza calculista - a mentira sujeita-se a passar a ser uma coisa monótona com muito menos interesse. Afinal não sei, de repente parece que tudo o que disse até agora (pouco ou nada) deixou de fazer sentido.
Voltemos às pessoas que existem. Nunca poderia ser escritora.
Ela chegou aqui de calças brancas justas, isso, brancas e justas, e nem sequer se notavam as cuecas ou a mínima nódoa. Camisa preta acho eu que era preta, lembro-me apenas do decote e dos botões. Reparei também na traseira dos sapatos que me pareceram asas em vez de solas. Eram moles e silenciosos, não que as asas sejam assim.
- Venho ter com uns amigos.
E os amigos lá estavam, afinal era só um. Ela quis enganar-me com o plural, a marota. Não sei se queria mentir.
A parte mais picante fica para depois. Posso adiantar que não vi nada senão uma manta cor de laranja que tapava duas pessoas.
Por agora sinto-me apenas cansada de mapas, museus em ponto minúsculo, ruas que não estão lá, restaurantes que só sei onde estão se estiver a ir para lá com pés e não com as mãos. As bic nunca encaixaram bem no meu dedo, não sei porquê.
Passamos a vida à procura de sítios que não existem. Quando passam a ser verdade, há que nos entreter com a próxima mentira.
Isto não é um cliché, parece-me demasiado verdadeiro.

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