terça-feira, setembro 16, 2008

35

Sou o número 35. Há uma folha de rascunho à porta da secretaria onde se tem que escrever o nome e o número de chegada. Havia uma Vânia que era o número 34, como depois só havia branco escrevi 35 tracinho Maria. Depois é-se atendida sabe-se lá quando. Pelo menos na segurança social dizem-nos a hora prevista. Aqui temos uma cambada de gente com cara de impaciente ( se a palavra bicha aterroriza qualquer um, a própria coisa em si desmotiva o mais zen dos monges) e cabelos oleosos. Não sei se é de ser tão escuro neste corredor, mas algo se pasa com o cabelo deste pessoal. Parecem ter todos os pés secos como eu. A vida é mesmo um monólogo.
Bom, voltando à questão das filas. Hoje de manhã também fui ao banco. No banco tive que tirar um papelzinho que dizia "001" e por isso fiquei contente. Apesar do deserto da sala, o homem do banco carregou no botão que fez com que aparecesse o número 001 numa televisão. Dirigi-me ao balcão respectivo e eis senão quando começou mal o dia. Como já referi várias vezes neste blog, não consigo suportar gente que está ao balcão que nos trata como bebés insolentes. Não se lhe podia fazer uma pergunta que aquele ser de fato e gravata por fora porque por dentro era um trapo humano, ficava aborrecido chegando a explusar-me discretamente daquela agência.
- "Na outra de S.Lázaro é que se calhar resolve melhor isso".

Depois cheguei aqui e vejo este papel. Penso:
- Se hoje não fosse o último dia para fazer esta merda.

Vou ter que esperar, não é tão mau assim. Não sei porque nós, humanos, não conseguimos muito bem esperar. Até nem tenho nada de extrema importância para fazer esta manhã. Até pode ser adiado o que teria para fazer. Mas bom, não me apetece estar na bicha. Deixei lá o meu nome com um número na folha de rascunho (que pode ser aldrabada e modificada sem que ninguém dê por isso) e vim comigo para a sala dos computadores.
Não sei o que terei deixado lá.
Um possível lugar marcado.
Um número e uma assinatura.
Os pés secos reflectidos nos pés dos outros.
A vontade de receber um jacto de água que nos invada os corpos, se entranhe nos cabelos, o sebo bem lavadinho, os papéis das propinas desfeitos, a folha de rascunho sem números ou nomes - uma mancha de tinta uniforme, desejos borratados de sermos atendidos anotados por uma BIC.

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