sexta-feira, junho 13, 2008

santos televisivos

Ontem, ao ver as marchas de S. António na televisão descobri que sou bairrista.
O São João é que é fixe.
Nunca tinha acompanhado em directo o tal festejo. Achei-o morno e decadente.
Primeiro apareceu-me uma jornalista inexperiente a entrevistar um homem muito suado que carregava uma espécie de altar.
- "Então, isso é muito pesado?" - pergunta ela.
- "É" - responde o homem com mais uma pinga de suor.
- "Quanto quilos, sabe?"
(isto é profundamente estúpido, por isso continuei a ver)
Pelos vistos, cada bairro tem uma madrinha e um padrinho para representar não sei bem o quê.
A Cinha Jardim está vestida de um azul inexistente e perdeu um brinco durante a marcha. É a madrinha do bairro de Alfama e diz: "Eu adoro isto!".
Tudo me pareceu chato, artificial e demasiado colorido. E depois todo aquele aparato televisivo, a bancada vip, o Rui Rio.
Não vemos quem está na rua, se o povo bebe cerveja ou vinho, as varizes das velhas, as camisas dos homens, as sardinhas da afurada, os martelos dos chineses, a gente, a gente, nós caralho.
Lisboa menina e moça, pois és.

(se calhar foi tudo culpa da televisão)

3 comentários:

Anónimo disse...

viva o santo antonio, viva o são joão, viva o dez de junho e a revolução...
o mês de junho é muito bom: dias grandes, quentes, festas de anos, dias feriados, festas populares e festas popularunchas!nem a televisão consegue dar cabo disso.

Anónimo disse...

Sou de Lisboa e passo todas as semanas pelo teu blog.
É certo que as marchas pela Avenida da Liberdade não se caracterizam por uma relação muito próxima com as pessoas que por ali passam. É mera concorrência de bairros e concelhos. Ainda assim, se passares por Santa Luzía e olhares lá para baixo, poderás ver outro Santo António. E mais, se tiveres em conta o quão versátil é Lisboa, podes passar pela Bica, pelo Bairro Alto, pela Costa do Castelo, etc.. dir-se-ia que cada uma destas zonas é diferentes das demais. Já dizia o Wim Wenders que Lisboa é a cara da Europa.
No fundo, e apesar de gostar imenso do teu blog, acabo por ter necessidade de defender a minha pequena república dos corvos. Lisboa não se minimiza. Lisboa é quase unânime ao comentário de espanto que vem de fora, do estrangeiro... e é esse comentário que fica para a posteridade, livre de descrições tendenciosas como as nossas.
Alfama teve como madrinha a Cinha Jardim? Que escolha péssima! Talvez por isso tenha ganho Marvila. A Cinha é mega-zero.

coentros disse...

Pois está claro, e ainda bem que defendes essa república.
Por vezes as emissões televisivas têm essa triste característica de conseguir tornar tudo amorfo...
E pode não parecer, mas sinto ma curiosa e lenta paixão por Lisboa.

(adorei o filme de wenders)