segunda-feira, maio 18, 2009

da rua e dos pés

Alice sentiu frio nos pés. Não se devem usar sandálias com este tempo, mas era tão de manhã. Foi então que viu duas pombas.
Alice costuma sair tarde de casa. Não, costuma sair mais tarde do que devia. No fundo, e de forma mais que patética, desafia o tempo. Como se aqueles 5 minutos que lhe restam para fazer a marginal toda, pudessem inchar como os seus pés num dia de verão e as sandálias muito apertadas.
Depois do episódio da ovelha suicida e do cavalo abandonado, foi a vez das pombas.
Alice entra em casa. Naquele dia, antes do outro em que tinha saído com frio nos pés. À porta do prédio uma pomba estranha. Está encostada, aninhada, naquele canto onde vai aquele homem parar às vezes para dormir um bocado e acabar o vinho de pacote.
Não fez nada, nada havia a fazer, ou talvez alguma coisa, sei lá. Pensou que não iria lutar contra o destino da pomba e que pensos adesivos em patas de pombas vadias era coisa de filme chato. Alice, que gosta de desafiar o tempo nos dias em que trabalha e quando apanha aviões, não é capaz de desafiar o fado da pomba moribunda. Nunca ninguém lhe tinha chamado hipócrita.
Sentiu frio nos pés. Quando fazia marcha atrás, olha (não sabe porquê) por baixo da carrinha branca que está estacionada mesmo em frente ao prédio.
Alice vê a pomba, morta.
(não interessa se era a sua ou não)
Vê duas pombas mortas.
Alice é novamente patética e pensa que a segunda pomba morta tinha vindo para ajudar a primeira, e não tendo conseguido completar a sua missão, morreu de tristeza.

3 comentários:

douro disse...

Deve haver um pombal perto

Ana Vasquez disse...

olha mary, não sei se estou a ser tão patética como a alice...mas no mesmo dia em que li este post cheguei a casa do tiago e havia uma pomba morta mesmo no meio do terraço.foi um bocado creepy!!

douro disse...

Ana, vai-se a ver e anda por aí uma gripe das aves sorrateira.