terça-feira, janeiro 13, 2009

leitão com asti gancia

A Maria Leitão aparece na cozinha enquanto desfio bacalhau. Não exige que lhe olhe nos olhos para dizer que está feliz porque o pai morreu.
- Não sei onde. Lá para o Brasil. Só soube uns tempos depois.
- Feliz, Maria? Coitado do seu pai.
A Maria voltou a abrir a boca para lançar um sorriso quase bárbaro. O pai fez-lhe muito mal. Senti-me estranhamente bem por ter encontrado uma espinha.
A Maria comemorou o acontecimento com champanhe. Disse:
- Menina, tinha há anos uma garrafa de champanhe guardada para quando morresse a minha sogra, mas tive de a abrir. Agora só tenho que comprar outra e esperar pela morte da minha sogra. A minha sogra é muito má. É mesmo muito má.
Nunca me tinha passado tal coisa pela cabeça. Já há muitos anos que deixei de entender a bondade ou a maldade. Enquanto arrancava a última pele cinzenta da posta, comecei a sentir as bolhinhas do champanhe na barriga.
Pensei em desenhos animados.
Os maus, os bons, os maus que morrem vencidos pelos bons.
Mas a Maria não faz parte deste trama. É pura espectadora, calculista e previdente, não vá a sogra morrer ao domingo e o supermercado estar fechado.

1 comentário:

PekPink disse...

mt marado este post mary...falamos sobre ele na 6ª,tou a fazer todos os preparativos para passar lá pa mais uma aulita :)
beijos grandes*