Se Buenos Aires fosse alguém era ma mulher. Perigosa e atraente. A cidade vive do seu glamour e deixa-nos levar pelas malhas, nem sempre consequentes, da beleza. Assume-se nos cafes à moda antiga, nas livrarias de escada em caracol, nas padarias que fazem fome, no tango da rua, nas feiras de antiguidades. A cidade parece barata mas não o é: as mulheres são de valor inconstante e podem sair caras a quem se apaixona por elas. Vai-se gastando um bocadinho aqui, depois é só aquele gelado ali, o cd que está uma pechincha ou o hotel que é só mais um euro mas que está no centro. A cidade é exigentemente feminina e reclama atencao. O porteno (habitante de buenos aires) é orgulhoso e visualmente elaborado. Sao muito politicamente activos e ha quem diga que as manifestações se tornaram em desporto nacional. Gostam de viver bem, de comer bem, de vestir bem. O brasileiro diz sobre o argentino : " eles comem merda e arrotam caviar". Há um circo de ilusões que vive de trapezistas equilbrados numa corda e seguros ao tecto por fios de nylon invisiveis. Assim, se alguem cair, os outros não vêm. Mas ha qualquer coisa que me aborrece nas cidades colonizadas por espanhóis: as infinitas ruas e avenidas que chegam ao numero 20000, a malha urbana toda feita a partir de perpendiculares e paralelas. Pessoalmente, na falta de alguma organicidade sinto-me perdida e a noção de esquerda ou dirita confunde-se constantemente. Quando tudo é tão igual a orientação torna-se mais complicada. E não há a "ruazinha que sobe" ou o bequinhos sem saida. Longas avenidas estabelecidas num plano sem fi, democracia de alturas, ausência de surpresas. Bairros com vida independente onde elite e "povo" se vão distinguindo e hierarquizando. Uma grande parte de Buenos Aires nao a vi: a mulher sabe sempre esconder o que de menos bonito tem.
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terça-feira, abril 04, 2006
capital de pernas depiladas
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6 comentários:
não conheço buenos aires, mas bastava este retrato para ficar desejoso de a conhecer...mesmo sabendo que é uma mulher que esconde os defeitos!!!
Se te pudesses comparar a uma cidade qual serias?
nao era uma cidade. talvez uma vilazinha cheia de sol junto ao mar, onde as pessoas nao fechassem as portas as chaves, e onde o convivio na praca pudesse substituir a televisao.
oh mary! a clara telefonou-me e estivemos horas a falar sobre as nossas vidas...ela esta a viver um sonho e parecia mesmo feliz...gosto mesmo muito dela mas gosto mais de ti! quando é que voltas?
tenho recortado todas as imagens dos sitios onde tu vais e junto-as todas num livro, para quando acabar de fazer o album do joaozinho dedicar-me ao livro da madrinha! tenho tanta vontade de estar ai...e que tu estejas aqui!
o meu baby ja tem dois dentinhos em baixo e sempre que se ri eles aparecem...estou tão babada..mais do que ele!
ele já bate palminhas e tens de ver a minha figura aos gritinhos só porque ele consegue comer bolachas e bater palminhas!
hoje dei-lhe meia laranja e ele adorou! é como a madrinha adora laranjas, alias adora fruta..
´daqui a umas semanas vais estar cá e aí ja te podes orgulhar do teu afilhadinho, que é tão alegre!como tu, como tu! ...nem acredito que estas para chegar...nem vou acreditar, vou pensar que és uma miragem...adoro-te.
ola outra vez...o meu pai esteve agora a ler a tua ultima mensagem e quer-te dizer qualquer coisa...
oh maria, a qualidade com que escreves e descreves o que sentes, o que vês, o que cheiras, leva-me a crer que poderás voltar a viajar e em breve sem teres que recorrer aos "subsidios" do BCP. Só tens que falar com alguém que conheças bem no mundo dos média e vender o teu travel book... Sou um apaixonado por este genero de escrita (ewan macgregor,miguel sousa tavares, cadilhe, etc) e considero (sem qualquer favor) aquilo que já li no teu blog, de maior qualidade. Havemos de falar sobre este assunto muito em breve... um beijão né!
p.s.- tou sabendo que vc está no Rio. Tenho aí um grande amigo carioca. se precisá algo, é só falá! Lhe posso dar seu contacto. Tou falando sério.
rui gama
"Tudo para que Marco Polo pudesse explicar ou imaginar que explicava ou imaginarem que explicava ou conseguir finalmente explicar a si próprio que aquilo que ele procurava era sempre algo que estava diante de si, e mesmo que se tratasse do passado era um passado que mudava à medida que ele avançava na sua viagem, porque o passado do viajante muda de acordo com o itinerário realizado, digamos não o passado próximo a que cada dia que passa acrescenta um dia, mas o passado mais remoto. Chegando a qualquer nova cidade o viajante reencontra o seu passado que já não sabia que tinha: a estranheza do que já não somos ou já não possuímos espera-nos ao caminho nos lugares estranhos e não possuídos.
Marco entra numa cidade; vê alguém numa praça viver uma vida ou um instante que poderiam ser seus; no lugar daquele homem agora poderia estar ele se tivesse parado no tempo muito tempo antes, ou se muito tempo antes numa encruzilhada em vez de tomar uma estrada tivesse tomado a oposta e ao cabo de uma longa volta viesse encontrar-se no lugar daquele homem naquela praça. Agora, daquele seu passado verdadeiro ou hipotético ele está excluído; não pode parar; tem de prosseguir até outra cidade onde o espera outro seu passado, ou algo que talvez tivesse sido um seu possível futuro e agora é o presente de outro qualquer. Os futuros não realizados são apenas ramos do passado: ramos secos.
- Viajas para reviver o teu passado? - era agora a pergunta de Kan, que também podia ser formulada assim:
- Viajas para achar o teu futuro? "
...que linda e epopeica viagem a tua!
Viagem que para minha sorte já acompanho há mais de dez anos... todos os teus possíveis passados não seriam nem mais nem menos desejados do que esse teu presente; carregado de corajosos confrontamentos com aquilo que poderiam ter sido; dando cada vez mais segurança e certeza à rota escolhida...
Agora não é tempo de parar; uma viajante não pode parar... continua a boa viagem e eu só espero poder continuar a acompanha-la de perto.
Um beijo Grande; tenho saudades..
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