sábado, janeiro 14, 2006

gokarna e quarto no acampamento cigano

Bem, ha duas maneiras de se viver Gokarna: ou se fica numa casita qualquer na vila de peregrinos, ou se vai viver para uma cabanita de bambu numa das praias paradisiacas das redondezas. Basicamente, as praias sao so para brancos, e os unicos indianos que se vem la sao os que trabalham para nos ou os que tentam fazer algum dinheiro connosco. Nao se pode dizer que a praia e' uma ma' opcao porque o ambiente parece ser porreiro e ali nao ha oportunidade para resort de luxo. Fogueirinha a noite, pessoal a tocar musica, e coisa e tal. Mas confesso que estou a viver um momento um pouco anti-social, e como estes sao os meus ultimos dias na India, resolvi ficar perto da comunidade local e peregrina, entregando-me mais uma vez a contemplacao desta cultura complexa e paradoxal. Quem ja esteve neste pais, entendera o que quero dizer com paradoxal: tudo o que se disser sobre a India, o contrario tambem esta' certo. Por isso, acreditem 50 por cento no que eu vou dizendo no blog. Acho que acaba por ser assim com qualquer generalizacao que tentemos fazer de qualquer povo, mas aqui de uma forma especial.
A vila esta repleta de indianos devotissimos que passam o dia a rezar e a queimar incenso com pinta na testa e com os mais diversos trajes. E' um regalo para os olhos. Depois ha a parte europeia: old old travellers com longos cabelos conzentos e barbas compridas da mesma cor. Acho que a media deve andar por volta dos 50/60 anos, e ainda nao percebi se eles estao aqui de passagem ou se resolveram estabelecer vida aqui. Mais uma vez vim parar 'a mais barata guest house de sempre (algo parecido com um acampamento cigano), e a minha vizinhanca e' um casal de 40 e muitos, que passam a vida a tocar flauta e guitarra indianas e a cozinhar a porta do quarto. Tem um filho loirinho que deve rondar os2 anos e que anda sempre nu. Este tipo de familia aqui e' um classico: pai barbudo, mae um pouco mais nova, filho nu loirinho. Ja vi uns tantos.
O meu quarto tem um colchao no chao e uma janela que da para a cozinha, mas que por misterio nao passa cheiro nenhum. As paredes nao sao pintadas - com tijolo e cimento a mostra - e o chao ainda nao percebi de que material e' feito. Para dizer a verdade, e' algo parecido a um pequeno estabulo, mas sem qualquer conotacao negativa, porque para alem de ser fresco, tem certos ares de aldeia portuguesa que me agradam. Tornei-o confortavel a minha maneira, o que se torna facil por ser pequeno. Ontem o puto nu entrou no meu quarto para brincar comigo e tentar ensinar-lhe a pintar com aguarelas. Parece-me que o pequeno ser estava a sentir falta de alguma actividade infantil, pois quando me quis ir embora la veio ele atras de mim a pedir mais e mais. Na verdae, foi um bocado dificil ensinar-lhe a pegar no pincel porque ele insistia que era maestro de musica, e entao punha o dedo tao na ponta (oposta ao pelo, obviamente) que se tornava impossivel fazer qualquer coisa. No fim, o resultado foi um monte de agua despejada para o papel de uma forma tao aleatoria que acabou por ter a sua graca.
De manha e 'a noite estou na vila, e 'a tarde vou dar um mergulho na praia. Os meus novos amigos sao os caes vadios e doentes, que nao sei porque razao, vem sempre ter comigo. Primeiro sentam-se de ladeiro com todo o respeito, depois com olhos de compaixao pedem por amor ou comida, e finalmente depois de me terem conquistado, querem sentar-se na minha toalha. Ontem andei a lutar com um, o caozinho nao largava a minha toalha, tive que me levantar e tudo. Era eu de pe a agarrar numa ponta e ele a trincar da outra. Tenho a impressao que toda a gente na praia se estava a rir de mim. Meia hora antes, tinha sido a vez de uma cadela manca cheia de cicatrizes a vir ter comigo. A relacao de amizade tornou-se tao intensa com a pobre cadela, que passado um bocado um gajo veio ter comigo, muito assutado, a dizer para eu nao a tocar porque ela devia ter raiva. Por acaso ainda nao lhe tinha tocado, o affair foi todo processado atraves de olhares que nao contagiam doencas.
Bem, amanha vou para Goa buscar o meu novo bilhete para a Australia e dia 18 sigo para Sidney. Uma coisa e' quase certa: aqui quero voltar, e nao vou cair outra vez na ambicao de comprar bilhetes de volt ao mundo se gosto de um pais e me apetece ficar nele.

5 comentários:

coentros disse...

..que maravilha

ernest.

Anónimo disse...

maravilha? qual a importancia, disto, ora diz-me la tu, ernest.

Anónimo disse...

pois é mary, voltarás à Índia qualquer dia mas, primeiro, regressarás a Portugal...ok?
old

Anónimo disse...

leva-me contigo...
boa viagem
AUSTRALIA...

Anónimo disse...

hoje parto. 18 de janeiro. brevemente escrevo da terra dos cangurus.